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Archive for Novembro, 2018

Keizer

Keizer desenvolveu muitos talentos no Ajax

Antes de mais tenho de agradecer ao trabalho desempenhado por Tiago Fernandes nas últimas semanas.

Afinal, tratava-se de uma equipa completamente à deriva, que aliava o inexistente processo ofensivo a uma incapacidade defensiva que permitia que qualquer adversário conseguisse disputar (e por vezes mesmo dominar) o jogo com o Sporting, somando ocasiões de golo atrás de ocasiões de golo. E quando isso chega a acontecer com o Loures e o Estoril, está tudo dito…

Com o jovem técnico, reconheço que a mudança esteve longe de ser assombrosa (jamais haveria tempo para isso), mas é inegável que o processo defensivo melhorou exponencialmente, conseguindo o Sporting ser uma equipa muito mais segura defensivamente nos últimos três jogos. Ofensivamente, por outro lado, as coisas melhoraram pouco, mas a verdade é que se ultrapassou esta fase com duas vitórias no campeonato e um empate com o Arsenal. Melhor seria (quase) impossível.

Ironicamente, chegamos à 10ª jornada a apenas dois pontos do líder. Os mesmos dois pontos a que estávamos há duas jornadas atrás, ainda com José Peseiro, e que fizeram com que todos caíssem em cima de Francisco Varandas por este ter despedido o coleccionador de insucessos.

Nesse período, gerou-se, aliás, uma ridícula campanha a roçar o “Je suis Peseiro”, ignorando-se o mau futebol crónico, os quatro golos encaixados no recinto do então último, a derrota caseira com uma equipa secundária ou a aflição com o modesto Loures. O que importava era defender o indefensável em prejuízo do Sporting.

É nesses momentos, que me pergunto se certas personalidades da nossa praça se prestam a certas figurinhas por má fé, ou apenas por uma incapacidade crónica de constatar para além do óbvio. Chega a ser constrangedor verificar a impossibilidade que têm de distinguir o processo do resultado, ignorando que um bom resultado nem sempre é resultado de um processo pensado, mas apenas de uma casualidade, um golpe de sorte que jamais durará para sempre.

Felizmente, e como sucedeu com a grande maioria dos sportinguistas, Frederico Varandas constatou o óbvio e percebeu que era preciso afastar José Peseiro e trazer um outro treinador que pudesse trazer uma filosofia de jogo ao Sporting.

Acredito piamente que o holandês não foi a primeira escolha do presidente do Sporting, mas, pelo perfil, não tenho quaisquer dúvidas que o mesmo encaixa perfeitamente no modelo que Frederico Varandas idealizou e que teria como primeira opção: Leonardo Jardim.

As premissas, afinal, são óbvias: um treinador pedagógico, que tenha uma aprofundada base teórico-prática num clube de renome (no caso de Marcel Keizer estamos apenas e só a falar do Ajax), e que tenha igualmente no seu ADN a capacidade de potenciar jovens talentos e de praticar bom futebol.

Quem tiver boa memória irá igualmente recordar que o Sporting já teve um treinador estrangeiro que preenchia os mesmos requisitos: Mirko Jozic. Uma vez mais, os “pseudo-entendidos do futebol” irão colar-lhe ao insucesso de um quarto lugar, esquecendo que o croata foi, no fundo, o verdadeiro potenciador do penúltimo título nacional conquistado pelos leões, ou não fosse ele a construir o trabalho de base que seria depois aproveitado na época seguinte por Augusto Inácio.

Ironicamente (ou talvez não), a Marcel Keizer já foi aplicada uma espécie de certidão de óbito. Isto antes do primeiro jogo ou mesmo primeiro treino.

Os argumentos são variados e começam no facto do holandês ter sido despedido no seu único trabalho num clube sénior de relevo (sem sequer investigarem o porquê desse mesmo despedimento) e de ter passado demasiado tempo a trabalhar em camadas jovens/divisões secundárias. Acima de tudo, de falta de experiência.

E não posso ser desonesto, tenho de reconhecer que é uma opção de risco, mas ao menos indica um projecto. E o Sporting precisa acima de tudo disso: de um projecto.

Por outro lado, o adepto comum também tem de perceber que o sucesso consolidado nem sempre está de mãos dadas com o sucesso momentâneo e que por vezes esse sucesso momentâneo acaba por mascarar erros estruturais que se vão pagar mais adiante.

Lembram-se do Benfica 2004/05, que foi campeão? A esse sucesso momentâneo sucederam-se quatro temporadas em que o Benfica nem sequer conseguiu chegar a um segundo lugar, chegando mesmo a acabar um desses campeonatos atrás de uma equipa que vinha da segunda divisão.

Por outro lado, entre 2010 e 2013, o mesmo Benfica não ganhou absolutamente nada de relevo, mas soube se manter fiel a uma estrutura de pensamento que acabaria por redundar num tetracampeonato. É o processo.

E é precisamente isso que espero que o Sporting ganhe com a chegada de Keizer. Um processo bem definido e que deverá ser essencialmente assente na renovação de toda a estrutura da formação para que esta volte à excelência de tempos não muito distantes (em que era a mais importante base de recrutamento do clube); um grande incremento da rede de scouting para a detecção de jovens promessas internacionais a preços ainda acessíveis; e a implementação de um modelo de jogo atractivo para o espectador e que seja transversal a todas as equipas do universo Sporting.

Se será o treinador holandês a pessoa certa para levar a cabo este trabalho? Não sei. Mas de uma coisa tenho a certeza: daquilo que conheço do seu trabalho de campo e consciente do sítio de onde vem, as bases estão todas lá.

De qualquer maneira, Keizer, tal como qualquer treinador que viesse no seu lugar e que pretendesse implementar uma ideia de jogo, terá de ter a paciência que nenhum adepto precisou de ter com Leonardo Jardim, Marco Silva ou Jorge Jesus.

É que o holandês herda uma equipa cujas dinâmicas de cinco temporadas foram abruptamente destruídas em poucos meses. Com a agravante de uma classificação enganadora e que não é minimamente consentânea com aquilo que o Sporting produziu em campo.

Uma espécie de ano zero até ao Verão, e o benefício da dúvida de todos os sportinguistas, é tudo o que lhe desejo.

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Peseiro

José Peseiro fracassou uma vez mais

Costuma-se dizer que uma mentira repetida muitas vezes pode tornar-se uma verdade e lembrava-me sempre disso quando se iniciava uma discussão sobre a primeira passagem de José Peseiro pelo Sporting.

Rotulado de treinador do “quase”, José Peseiro era muitas vezes colocado num patamar de vítima, lembrando os seus defensores de que o técnico ficou muito perto da conquista do título nacional e de ganhar uma competição europeia.

Esse é, afinal, um hábito recorrente do típico adepto futebolístico português, e que deriva da sua quase intrínseca incapacidade de ver para além do resultado final, ignorando todo o processo e vicissitudes que levaram a esse destino.

“Ganhou ou não ganhou?” é aquela fraca e recorrente argumentação que permite facilmente identificar esta estirpe de gente que prolifera no Mundo do futebol, mas também se encontra nas outras áreas de opinião. Mas não pensem que isto está circunscrito às conversas de café. Existem inúmeros jornalistas e pseudo-jornalistas da nossa praça que se alimentam desta falácia.

Ora, José Peseiro, de tão fraco, nem sequer permitia que essa gente se pudesse apoiar no “ganhou ou não ganhou”, porque, com sorte ou trabalho, a verdade é que ele nunca ganhou nada de relevante. Mas, existia sempre aquela irritante retórica do “excelente campeonato e Taça UEFA que só teria sido perdida por manifesto azar”…

Mas terá sido mesmo assim? Ignoremos propaganda e vamos cingir-nos aos factos:

José Peseiro somou 61 pontos em 34 jornadas desse campeonato nacional de 2004/05, o que resulta numa média de 1,79 pontos/jogo, perdendo a Liga para um Benfica que somou 65 pontos em 34 jornadas, numa pouco superior média de 1,91 pontos/jogo.

Para terem uma ideia, nas treze temporadas seguintes o Sporting apenas por três vezes terminou o campeonato com pior média de pontos: 2009/10 (4.º); 2010/11 (3.º) e 2012/13 (7.º), épocas em que acabou a 28, 36 e novamente 36 pontos de distância do primeiro lugar.

Aliás, a prestação de José Peseiro nessa Liga é tão fraca que o Sporting 2011/12, que terminou em quarto lugar, atingiu uma média de pontos (1,97) que lhe teria permitido ser campeão em 2004/05.

Perceba-se uma coisa: Obter uma média de dois pontos/jogo é uma banalidade no campeonato português. E mesmo o Sporting, que nunca foi campeão nessas 13 temporadas, atingiu essa média em oito ocasiões, com Paulo Bento (3 vezes), Jorge Jesus (3), Marco Silva e Leonardo Jardim.

Ou seja, um treinador que não o consegue fazer não pode ser rotulado de técnico do “quase”, mas sim de medíocre.

Passemos agora ao por muitos saudado périplo “uefeiro” de José Peseiro em 2004/05.

“Ah, o Sporting fez uma grande campanha.”; “Que noites gloriosas contra grandes equipas europeias”; etc, etc, etc…

Ora, o Sporting chegou à essa final, que haveria de perder ridiculamente em casa, após o seguinte percurso:

1ª eliminatória: vs Rapid Viena (2-0 e 0-0) – havia de ser campeão austríaco nessa época.

Fase de grupos: vs Panionios (4-1) – havia de ser 11.º no campeonato grego; vs D. Tiblissi (4-0) – havia de ser campeão da Geórgia; vs Sochaux (0-1) – havia de ser 10.º no campeonato francês; e vs Newcastle (1-1) – havia de ser 14.º na Premier League.

Fase a eliminar: vs Feyenoord (2-1 e 2-1) – havia de ser quarto classificado no campeonato holandês; Middlesbrough (3-2 e 1-0) – havia de ser 7.º na Premier League; Newcastle (0-1 e 4-1); e AZ (2-1 e 2-3) – havia de ser terceiro classificado no campeonato holandês…

É isto um percurso épico?

E depois perder a final contra um adversário que, até aí, tinha como melhor prestação europeia o último lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões 1992/93 e que, na temporada 2003/04, não tinha passado da 2.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, eliminado que foi pelo colosso macedónio: Vardar?

Épico é eliminar o Manchester City, como fez Sá Pinto em 2011/12, ou bater-se de frente contra o Chelsea, Juventus, Real Madrid ou Barcelona como fizeram Marco Silva ou Jorge Jesus.

José Peseiro apenas beneficiou de um campeonato fraco e de muita sorte nos sorteios europeus para criar a ideia do “quase”, que, no fundo, foi apenas resultado da sua mediocridade.

É que, quando conjugações cósmicas ocorrem, até Jaime Pacheco pode ser campeão com o Boavista ou José Rachão (V. Setúbal) e José Mota (Aves) podem ganhar uma Taça de Portugal. E Peseiro nem isso conseguiu, com o Sporting.

Portanto, ao enésimo insucesso, espero que termine finalmente o “mito” e a sua carreira como treinador de alto nível. Sinceramente, já não tenho paciência para ambas as coisas.

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