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Archive for the ‘Estórias do Mundial’ Category

RDA e Chile empataram a uma bola no Mundial 74

A qualificação para o Mundial 1974, que se disputaria na República Federal da Alemanha, teve um playoff de apuramento intercontinental que colocava, frente a frente, as selecções do Chile e da União Soviética. No primeiro jogo, a 26 de Setembro de 1973, em Moscovo, o resultado saldou-se num empate e, assim, a 21 de Novembro, iria disputar-se em Santiago do Chile, o jogo decisivo para o último passaporte para o campeonato do mundo. Contudo, ao mesmo tempo, o Chile havia vivido um golpe de estado patrocinado pelos EUA, que fez com que Pinochet derrubasse o socialista e legitimamente eleito: Salvador Allende. Em plena guerra fria, ninguém acreditaria que os soviéticos não aproveitassem o momento para um protesto político e, de facto, foi o que fizeram…

O Chile chegava a este playoff após ter superado um grupo com as selecções do Peru e da Venezuela. Como havia sido o vencedor de grupo com pior performance (atrás de Argentina e Uruguai), seria obrigado a superar a selecção com registo identico, mas do continente europeu: URSS (superou a França e a Rep. Irlanda para chegar a este jogo decisivo).

Poucos dias antes do primeiro jogo (a disputar em Moscovo), no dia 11 de Setembro de 1973, o Chile viveu um golpe de Estado liderado por Augusto Pinochet e com o total apoio dos Estados Unidos. Essa acção militar derrubou o socialista e democraticamente eleito: Salvador Allende, sendo que grande parte dos partidários e apoiantes de Allende foram detidos, torturados e, até, executados no Estádio Nacional de Santiago do Chile.

Após o primeiro jogo disputado na URSS e que terminou com um nulo, os soviéticos afirmaram que não pretendiam viajar para Santiago do Chile e, muito menos, jogar num “Estádio da Morte” que havia sido palco de atrocidades contra partidários socialistas. Em plena guerra fria, era uma decisão lógica de protesto contra a intervenção norte-americana num país de governo socialista e pró-soviético.

Assim sendo, na segunda mão, disputada a 21 de Novembro de 1973, os soviéticos cumpriram a promessa e não compareceram ao jogo. Devido a isso, o Chile iria apurar-se, automáticamente, devido a falta de comparência, no entanto, os sul-americanos não deixaram de fazer uma encenação que demonstrasse a sua superioridade sobre os soviéticos.

No dia do desafio, os chilenos entraram mesmo em campo e, perante milhares de espectadores, alguns jogadores sul-americanos deram um pontapé de saída e avançaram por um meio campo deserto para fazerem um golo simbólico que foi seguido de um pseudo apito final.

O Chile avançava para o Mundial da RFA, onde foi eliminado logo na primeira fase, pois na fase de grupos, apenas empatou com a Alemanha Oriental (1-1) e Austrália (0-0), perdendo com a Alemanha Ocidental (0-1). Nesse campeonato do mundo, todos os seus jogos ficaram marcados por protestos contra o regime, exibidos nas bancadas por exilados políticos.

Os soviéticos, esses, já tinham feito o seu protesto, não aparecendo ao jogo da segunda mão e permitindo que, assim, se disputasse um jogo fantasma naquele que ficou conhecido com o Estádio da Morte…

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Monumento à “Guerra do Futebol” nas Honduras

Estávamos em Junho de 1969 e El Salvador e as Honduras disputavam uma eliminatória de tudo ou nada na zona de apuramento da CONCACAF para o México 1970. As Honduras venceram o primeiro jogo (1-0), enquanto os salvadorenhos venceram o segundo (3-0) e o desempate (1-0) na cidade do México. Durante todos os encontros, houve confrontos graves, principalmente na partida em El Salvador, confrontos que derivavam de problemas já antigos que geraram perseguições, expulsões e, imagine-se, uma guerra, que ficaria conhecida para sempre como: “A Guerra do Futebol”.

Com o México automaticamente apurado como país organizador do Mundial 1970, abria-se uma vaga para uma selecção de segunda linha da CONCACAF.  Honduras, El Salvador, Haiti e EUA superaram a primeira fase e apuraram-se para as meias finais que designou os seguintes jogos: EUA vs Haiti e El Salvador vs Guatemala.

Naquela altura, El Salvador e as Honduras tinham bastantes e graves problemas sociais e etnicos, pois os salvadorenhos, apesar de terem o dobro da população das Honduras, tinham um país cinco vezes mais pequeno que os hondurenhos e, assim, criaram uma grande vaga de emigração para as Honduras em busca de terrenos agícolas onde pudessem trabalhar.

Nessa época, os terrenos agrícolas hondurenhos eram, na sua quase totalidade, controlados por grandes latifundiários e por grandes empresas internacionais. Cansados dessa situação, os hondurenhos fizeram uma reforma agríciola que protegia o agricultor local e começou a desapropriar os salvadorenhos que trabalhavam nas Honduras. Essa situação tornou-se mais fácil, pois a maior parte dos emigrantes de El Salvador estavam nas Honduras de forma ilegal e a trabalharem terrenos que não lhes pertenciam.

Esta situação era muito delicada e, na verdade, apenas precisava de um rastilho para despoletar algo de muito grave. Um jogo de futebol, ainda para mais de apuramento para um Mundial, tornava-se a desculpa perfeita.

A primeira partida, disputada nas Honduras, foi vencida pela equipa local (1-0) e, a segunda, jogada em El Salvador, foi vencida pelos salvadorenhos (3-0). Em ambos os jogos, houve confrontos graves entre pessoas das duas nacionalidades, além de perseguições de hondurenhos em El Salvador e, principalmente, de salvadorenhos nas Honduras.

O desempate (na altura o que contavam eram as vitórias e não as margens de golo das mesmas) disputou-se no México e foi ganho por El Salvador (1-0), que assim iria avançar para jogar a final com o Haiti, mas, naquela altura, pouco interessou, pois todos já esperavam algo de muito grave.

A prova de que esse medo tinha razão de ser foi uma guerra, que se iniciou no mês seguinte aos jogos de apuramento, ou seja em Julho (dia 14 para sermos mais exactos). Os salvadorenhos invadiram e controlaram territorio hondurenho, até que, no dia 20 de Julho, foi decretado o cessar fogo, ainda que os militares de El Salvador só tenham começado a abandonar as Honduras nos primeiros dias de Agosto. Morreram 3000 (900 salvadorenhos e 2100 hondurenhos) no decurso da “Guerra do Futebol”.

Em Setembro, a selecção de El Salvador disputou mesmo a eliminatória com o Haiti e venceu-a (2-1, 0-3 e 1-0), apurando-se para um Mundial de má memória, pelos jogos de apuramento terem ajudado a gerar a “Guerra do Futebol” e, também, porque, no Mundial própriamente dito, os salvadorenhos foram eliminados logo na primeira fase devido às derrotas com Bélgica (0-3), México (0-4) e União Soviética (0-2).

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Rojas no relvado após a queda do petardo

A 3 de Setembro de 1989, brasileiros e chilenos jogavam, no Rio de Janeiro, uma partida decisiva para o apuramento para o Itália 90. Quem vencesse essa partida estaria apurado para o campeonato do mundo e quem perdesse estaria definitivamente afastado do certame. Num encontro intenso, tudo ia correndo bem para os canarinhos, que venciam por 1-0 (golo de Careca aos 48 minutos) e viam o tempo jogar a seu favor, até que, ao minuto 68, Roberto Rojas, caiu no relvado, presumivelmente atingido por um petardo lançado da bancada. O jogo seria interrompido e esperava-se que o Brasil acabasse excluído do campeonato do mundo devido ao acontecimento, mas… havia outra história por trás da lesão.

 

Integrados num grupo onde também estava a Venezuela, canarinhos e chilenos dominaram, desde o início, o agrupamento. Os brasileiros empataram com o Chile (1-1) mas golearam a Venezuela nas duas partidas (4-0 e 6-0), enquanto os chilenos não ficaram atrás, pois além do empate com os brasileiros, também não facilitaram diante da Venezuela (3-1 e 5-0).

Assim sendo, com as duas equipas com os mesmos pontos, o último jogo do agrupamento: Brasil-Chile era uma autêntica final, ainda que, devido à diferença de golos, bastasse um empate aos canarinhos e os chilenos eram obrigados a vencer.

Foi um jogo intenso, com muitas picardias à mistura, mas, globalmente dominado pelo Brasil. Depois de uma primeira parte sem golos, o reeinicio da partida trouxe, rapidamente, o golo de Careca (48′) e aproximou o Brasil do objectivo: Itália 90.

Com o encontro a caminhar para o seu final, os chilenos começaram a perder discernimento e era cada vez mais improvável que pudessem fazer dois golos. Nas bancadas já se fazia a festa, quando, aos 68 minutos, Roberto Rojas, guarda-redes chileno, caiu no relvado presumivelmente atingido por um petardo.

Rojas abandonou o relvado com a cara ensanguentada e os jogadores chilenos recusaram-se a continuar o desafio, alegando não estarem asseguradas as condições mínimas de segurança.

Pensou-se que, devido ao incidente, os chilenos pudessem ganhar o jogo na secretaria, todavia, imagens de vídeo desmascararam Rojas.

Essas gravações, mostravam que o guarda-redes não tinha sido atingido pelo petardo e, mais tarde, soube-se que o sangue era resultado de uma ferida que o próprio Rojas fez com uma lâmina que tinha guardada na luva.

A FIFA chocada com o acontecimento, excluiu automaticamente o Chile do Mundial 1990 e, também, das qualificações para o Mundial 1994. Roberto Rojas, por outro lado, foi banido definitivamente do futebol, sendo, posteriormente, perdoado em 2001, quando pouco lhe valia, pois já tinha 43 anos.

Reveja ou descubra as imagens de um dos maiores escândalos de sempre do futebol…

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Banco iraquiano no jogo com o Paraguai (México 86)

Presente no Mundial 1986, o Iraque apostava muito forte na presença no campeonato do mundo de 1998 em França. A Federação iraquiana tentou dotar os atletas de todos os meios para que, doze anos depois, a selecção árabe voltasse a um Mundial de futebol. No entanto, as coisas nem sempre ocorrem como se deseja e a selecção do Iraque não passou do primeiro grupo de qualificação que tinha as, teoricamente acessíveis, selecções do Cazaquistão e Paquistão. Ainda assim, para os jogadores, pior do que a desilusão de não estarem num campeonato do mundo, foi o que veio depois…

A equipa do golfo pérsico havia estado presente no campeonato do mundo em 1986, no México e, apesar de sido eliminada logo na fase de grupos, tinha feito exibições bastante agradáveis, perdendo todos os jogos pela margem mínima: Paraguai (0-1), Bélgica (1-2) e México (0-1).

Na verdade, nos anos 80, o Iraque revelou-se, em termos futebolísticos, uma potência regional, pois além de ter estado no México 86, também esteve presente nos Jogos Olímpicos de 1984 e 1988 e venceu os Jogos Asiáticos de 1982. No entanto, a Guerra do Golfo criou imensos problemas ao país e impediu que o futebol mantivesse a sua ascensão.

Ainda assim, a Federação do Iraque apostava tudo no renascimento do seu futebol e, para tal, apostava fortíssimo na presença no Mundial 1998 que iria ter lugar em França.

Integrados, numa primeira fase, num grupo de qualificação com Cazaquistão e Paquistão, os iraquianos acreditavam que seria fácil passar à fase decisiva, ou seja, aquela que os podia apurar para o Mundial 2010.

Realmente, o Paquistão não causou qualquer embaraço aos iraquianos, que brindaram o seu adversário com duas goleadas (6-1 e 6-2), todavia, o Cazaquistão revelou-se bem mais forte do que se esperava e venceu a selecção do golfo pérsico, tanto em casa (3-1) como fora (2-1) e eliminou-os da fase decisiva.

Essas derrotas e a consequente eliminação do Iraque deixaram Qusay Hussein, Presidente da Federação Iraquiana de Futebol, desesperado e, este, em cólera, ordenou que todos os jogadores passassem por um quartel do seu Pai (Saddam Hussein).

Nesse local, os jogadores foram presos e torturados, sendo que no final desse momento de terror, os atletas iraquianos ainda foram brindados com uma fria frase do filho do ditador: “Joguem melhor da próxima vez”.

Curiosamente, em 2003, Qusay Hussein foi morto na invasão americana. No entanto, as profundas marcas que deixou nos jogadores daquela selecção iraquiana irão ficar, para sempre, marcadas nas suas piores memórias.

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Owairan festeja o seu golo magnífico

Estava quente, muito quente como aquelas tardes do deserto a que Owairan costumava estar habituado e o relógio marcava cinco minutos do encontro: Arábia Saudita-Bélgica a contar para o Mundial 94. Os europeus, já apurados, estavam mais tranquilos e ainda estudavam o adversário quando Saeed Al-Owairan decidiu iniciar a sua corrida imparável no seu próprio meio campo. Passou um belga, passou dois, passou três e o quarto, bem o quarto foi recuando e recuando na expectativa de lhe tirar a bola, mas também foi ultrapassado. Por fim, à saída de Preud’Homme, o saudita sabia que não podia falhar, atirou forte e não falhou. Owairan tornava-se, instantaneamente, no novo Maradona e todos lhe auguravam o grande futuro, porém, a história acabaria por ser-lhe cruel.

Nunca uma equipa do golfo pérsico havia ultrapassado a fase de grupos. Tanto o Kuwait (1982) como o Iraque (1986) e os Emirados Árabes Unidos (1990) haviam sido eliminados precocemente, sendo que apenas o Kuwait havia conseguido fazer um ponto.

Assim sendo, ninguém esperava muito dos sauditas que estavam integrados num grupo com Holanda, Bélgica e Marrocos, pedindo-se apenas dignidade na sua participação.

No primeiro encontro, a Arábia Saudita defrontou a Holanda e criou o primeiro impacto no campeonato do mundo dos Estados Unidos. Após abrir o activo por Amin (19′), os sauditas chegaram ao intervalo a vencer e, mesmo depois de consentirem o empate (Jonk, 50′), foram aguentando a igualdade até ao minuto 86, quando Taument fez o 1-2 final.

Este resultado era um aviso que esta Arábia Saudita era diferente das outras equipas do golfo pérsico. Tratava-se de uma equipa com maior disciplina táctica e, acima de tudo, mais talentosa.

No segundo jogo, os sauditas defrontaram os marroquinos. Como ambas as equipas haviam perdido a primeira partida, era uma espécie de final em que quem vencesse continuava a lutar pelo apuramento e quem perdesse começaria a fazer as malas. Tratou-se de um desafio intenso, mas os Falcões Verdes venceram por 2-1 e, assim, iriam defrontar os belgas com possibilidades reais de chegarem aos oitavos de final.

Nessa partida, os sauditas precisavam de apenas um empate para se apurarem para os oitavos e esse era o mesmo resultado que os europeus necessitavam para garantirem o primeiro lugar no grupo.

Aos cinco minutos, surgiu o momento mágico de Owairan que passou por quatro jogadores belgas e fez o golo inaugural da partida. Os sauditas rejubilaram, mas ao mesmo tempo pensaram que ainda faltavam muitos minutos para o final da partida, temendo que os belgas dessem, facilmente, a volta ao resultado.

No entanto, os sauditas foram heroicos e, inclusivamente, seguraram o triunfo, conquistando o segundo lugar no grupo e consequente apuramento para a 2ª Fase.

Não passaram dos oitavos de final (perderam com a Suécia, 1-3), mas o seu lugar na história estava garantido. Haviam sido a primeira equipa do golfo pérsico a atingir a 2ª Fase do campeonato do mundo. Além disso, Saeed Al-Owairan, graças ao golo “à Maradona”, havia garantido a atenção do mundo do futebol, falando-se, inclusivamente, de uma transferência para um grande clube europeu.

No entanto, existia uma lei na Arábia Saudita que impedia os jogadores locais de actuarem no estrangeiro e, como tal, Owairan via-se privado do sonho de jogar num clube europeu. Ainda assim, o azar do saudita não ficou por aqui.

No ano seguinte, o internacional da Arábia Saudita cometeu adultério, crime grave naquele país. Por isso, esteve um ano preso e levou 60 chicotadas na praça pública.

Depois de cumprir a pena, o “Maradona das Arábias” voltou a jogar futebol e, até, esteve presente no Mundial 1998, todavia, nunca mais foi o mesmo. Aquele grande golo, mais do que o ter catapultado para um plano superior do futebol mundial, acabou por diluir-se na história do futebol e, para Owairan, acabou por ser o início do declínio da sua carreira como jogador de futebol.

Uma crueldade que se agrava quando revemos esse grande golo apontado pelo internacional saudita.

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Cannigia passou Taffarel e vai facturar

A 24 de Junho de 1990, Brasil e Argentina defrontavam-se, em Turim, para os oitavos de final do campeonato do mundo. As duas equipas haviam tido percursos bastante diferentes na primeira fase, pois se os brasileiros haviam vencido os seus três desafios diante de Suécia, Costa-Rica e Escócia, os argentinos haviam passado à justa na terceira posição do grupo, com apenas uma vitória (URSS) e um empate (Roménia) conquistados. Assim sendo, a selecção canarinha era favorita à vitória diante da equipa de Maradona. O jogo foi intenso, mas, com o passar do tempo, alguns jogadores brasileiros começaram a parecer sonolentos em campo. Nesse seguimento, a nove minutos do fim, Cláudio Cannigia fez o golo decisivo e eliminou o Brasil. O porquê da derrota? Maradona? Cannigia? Não, segundo os brasileiros, foi a água que os argentinos lhes deram…

O Brasil que participou no campeonato do mundo de Itália era uma equipa pouco espectacular, mas era fria e calculista. Apesar de não parecer uma normal equipa canarinha, os brasileiros convenceram durante a primeira fase, pois ganharam todos os jogos, ainda que sempre pela margem mínima. No Grupo C do Mundial, os canarinhos venceram Suécia (2-1), Costa-Rica (1-0) e Escócia (1-0).

Por outro lado, os argentinos haviam vivido uma fase de grupos que quase se tornou um pesadelo. No jogo de estreia, perderam com os Camarões (0-1), mesmo com a equipa africana a terminar a partida com menos duas unidades. Depois, venceram a União Soviética (2-0), num jogo em que voltaram a beneficiar de uma expulsão (Bessonov 46′). E por fim, empataram com a Roménia (1-1) num jogo sofrido, mas que acabou por resultar no apuramento das duas selecções para os oitavos de final.

Assim sendo, quase todos os analistas davam o favoritismo aos brasileiros no confronto com os argentinos para os oitavos de final do campeonato do mundo.

Como se esperava, o jogo foi muito táctico, mas os brasileiros tiveram mais iniciativa de jogo. Ricardo Rocha falhou por milímetros, Dunga atirou ao poste e Alemão à trave, sendo que o seguimento de oportunidades falhadas pelos brasileiros faziam prever um golo canarinho.

No entanto, como estava muito calor, os jogadores de ambas as equipas tinham o hábito de se deslocarem aos bancos para beberem água, sempre que o jogo tinha alguma paragem. No entanto, nem sempre se dirigiam ao próprio banco e, assim, algumas vezes os brasileiros beberam água no banco argentino.

Com a chegada do final do desafio, os brasileiros começaram a aparentar estar perdidos no campo, denotando falta de reacção em alguns lances. Quem os conhecia, percebia que não era cansaço, eram os oitavos de final do Mundial, tinha ser algo mais.

Aos 81 minutos, Maradona furou no meio de uma defesa sonolenta e desmarcou Caniggia para este fazer o golo decisivo para a eliminação canarinha. O jogo terminou pouco depois com a vitória argentina e rapidamente se tentou perceber, junto dos jogadores brasileiros, a razão para tão pronunciada quebra exibicional.

Branco, revoltado, afirmou que havia ficado sonolento após ter bebido água dada pelo massagista argentino e aumentou o teor das suspeitas. Ainda assim, ninguém deu seguimento a essa acusação. Durante vários anos, falou-se, nos bastidores, da possibilidade da água ter sido envenenada, porém, apenas em 1993 tivemos a confirmação das suspeitas.

Miguel di Lorenzo, massagista argentino, confirmou ao jornal “El Clarín” que tinha dois tipos de água na mala: uma para os seus e outra para os brasileiros. Segundo ele, a ideia tinha sido do próprio seleccionador celeste, Carlos Bilardo.

Assim sendo, pode-se dizer que, desta vez, para além dos golos falhados, os brasileiros acabaram por ser eliminados com o amargo sabor de água envenenada. 

Reveja o golo de Cannigia que eliminou o Brasil do Mundial 1990

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Andrés Escobar

Quando aos 34 minutos dos EUA-Colômbia, Andrés Escobar fez um autogolo a tentar interceptar um cruzamento de John Harkes, o desespero tomou conta do defesa sul-americano, que, por certo, ficou inconsolável após perceber que esse golo foi crucial para a derrota da Colômbia (1-2) e consequente eliminação do Mundial 94. Ainda assim, duvidamos que tenha acreditado, nesse instante, que esse tento infeliz, acabasse por lhe custar a vida, num dos momentos mais tristes do mundo do futebol.

A Colômbia chegava ao campeonato do mundo de 1994 com a moral em alta. Muitos analistas colocavam mesmo os sul-americanos como um possível candidato ao título mundial, após estes terem vencido um grupo de qualificação com Argentina, Paraguai e Peru.

Nesse grupo de qualificação, saltou à vista um jogo, na Argentina, em que os colombianos venceram por um impressionante 5-0. Após esse momento, os “cafeteros” julgaram-se invencíveis e acreditaram que o seu grupo mundialista com EUA, Roménia e Suíça seria um mero passeio. Um excesso de confiança que haveria de revelar-se fatal para as pretensões colombianas e, pior do que isso, para a vida de Andrés Escobar.

 No primeiro jogo, os colombianos defrontaram os romenos e procuraram o golo desde o primeiro momento. Todavia, os romenos, mais matreiros, foram letais no contra-ataque e saíram vitoriosos por três bolas a uma. Ainda assim, os colombianos estavam tranquilos, pois o segundo jogo era contra os acessíveis (pensavam eles) Estados Unidos.

Esse desafio foi muito infeliz para a Colômbia. Nos primeiros minutos de jogo, os colombianos falharam golos incríveis, ficando na retina um lance em que a bola vai ao poste e, depois, é salva na linha por um defesa norte-americano. Pouco depois, a cruzamento de Harkes, num lance totalmente inofensivo, Escobar, a tentar interceptar a bola, faz auto-golo.

A perder, os colombianos voltaram a perder a calma e tentaram o golo mais com o coração do que com a cabeça, sofrendo o segundo golo, no início da segunda parte por Stewart. Antes do final da partida, Valência ainda reduziu, mas o 1-2 apenas amenizou nova derrota dos colombianos na competição.

Apesar de terem vencido a Suíça (2-0) no último jogo do campeonato do mundo, os colombianos acabaram o grupo A do Mundial 1994 no último lugar e regressaram precocemente a casa.

No entanto, o momento mais triste para o futebol colombiano surgiu apenas dias depois. À saída do bar El Índio, localizado no suburbios de Medellín, Andrés Escobar foi morto por um elemento de um gang colombiano, que disparou doze tiros e, a cada um deles, gritou: golo! Tudo ao estilo dos comentadores sul-americanos.

Pensa-se que o elemento que pertencia ao Cartel de Medellín havia apostado muito dinheiro na passagem colombiana à segunda fase e, culpabilizando Escobar por esse fracasso, decidiu matá-lo.

Um momento negro para o desporto rei e que prova que, por vezes, o futebol é mesmo um caso de vida ou morte.

Reveja o autogolo de Escobar

 

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A equipa portuguesa que perdeu (1-3) com Marrocos

A 16 de Outubro de 1985, o país ria do desplante de José Torres. O seleccionador nacional havia pedido, num romantismo épico: “Ao menos deixem-me sonhar!” O sonho era a qualificação para o campeonato do mundo de 86, mas passava por Portugal ganhar onde nunca ninguém tinha ganho (na Alemanha) e a Suécia perder na Checoslováquia. Nesse dia, o povo português nem estava muito virado para a partida, pois ninguém acreditava que a selecção das quinas vencesse em Estugarda. Nas redacções dos jornais, soube-se, pouco antes do início do jogo, que afinal a Suécia tinha mesmo perdido na Checoslováquia e, assim, “só” faltava vencermos a Alemanha Ocidental. Nesse momento, os jogadores começaram a acreditar no sonho e, aos sete minutos da segunda parte, Carlos Manuel, descaído para a esquerda, ainda longe da grande área, desferiu um remate divino que sobrevoou Schumacher e entrou no ângulo da baliza alemã. Após o tento, o resto do jogo tornou-se penoso, com Portugal encostado às cordas e o país suspenso a cada remate que os alemães atiravam ao poste. No entanto, os deuses estavam com a selecção e conseguimos a qualificação. Pena foi o que aconteceu depois, no México, que fez muita gente arrepender-se de nos termos apurado…

 

Portugal, apesar de fazer dois jogos (Inglaterra e Polónia) em altitude baixa (Monterrey) e outro (Marrocos) em altitude média (Guadalajara), estava com o fantasma da altitude, pois, se passasse aos oitavos de final, poderia ter de jogar na Cidade do México (2238 metros) ou Léon (1800 metros). Assim, a escolha de Saltillo seria, na opinião da delegação portuguesa, uma boa escolha para quem pensava chegar à fase final.

A escolha de Saltillo, todavia, veio a revelar-se desastrosa. O problema não era a cidade, pois, por exemplo, a Inglaterra também lá estava, mas pelo Hotel, que se encontrava inundado de jornalistas e, pela noite, de umas quantas “meninas da noite”. Depois, o campo de treinos estava numa encosta e, assim, Portugal treinava num relvado que subia na primeira parte e descia na segunda…

Mas o desastre da preparação portuguesa não se ficou por aqui. Portugal não conseguia arranjar um adversário para fazer um jogo particular competitivo e, quando finalmente pensava haver arranjado, quem surgiu foi um grupo de profissionais de indústria hoteleira que pediram dispensa dos seus trabalhos para jogarem com Portugal. Em Monterrey, o jogo foi uma risada completa. A Equipa das quinas fez onze golos a brincar e os jogadores lusitanos rebolavam-se no chão a rir. Infelizmente, as risadas não chegaram à Cidade do México onde o Presidente da Federação Portuguesa de Futebol continuava a sua estadia.

Entretanto começou a maré de reivindicações. Os jogadores queixavam-se dos baixos prémios, pois, na realidade, estavam no México com uma diária de 4000 escudos. Um jornalista inglês confidenciou mesmo que, com essa diária, a Inglaterra não teria ali um único jogador. A incapacidade de Portugal ter feito um único jogo que fosse contra uma equipa minimamente competitiva era outra das razões que incomodavam e de sobremaneira os jogadores. Começava-se a perceber que o Mundial 1986 seria um desastre.

Curiosamente, o Mundial até começou bem. No primeiro jogo, diante da Inglaterra, com um onze cauteloso, Portugal venceu por 1-0, graças a um golo de Carlos Manuel (75′). No final da partida, entre abraços e lágrimas, José Torres declarava: “Há qualquer coisa que me ajuda quando caio.” Infelizmente, a ajuda divina terminou aqui.

Antes do segundo jogo, diante da Polónia, o guarda-redes titular, Manuel Bento, lesionou-se e ficou impossibilitado de jogar o resto do campeonato do mundo. Assim, avançou Damas, contudo, o guarda-redes leonino não estava psicologicamente preparado e entrou em depressão. Entretanto, o jogo com a Polónia foi um desastre e Portugal perdeu 1-0, graças a um golo de Smolarek aos 22 minutos da segunda metade.

Depois de ter feito os dois primeiros jogos em Monterrey, Portugal viajou para Guadalajara para defrontar Marrocos. A viagem foi uma peripécia completa, pois o avião atrasou-se várias horas e, devido à tempestade, tornou-se um percurso bastante assustador. Ainda assim, tudo parecia simples para Portugal, pois, na verdade, bastava empatarmos com Marrocos para seguirmos em frente.

Diz-se que, José Faria, seleccionador marroquino fez chegar à comitiva nacional um bilhete em que propunha um empate a dois golos, situação que apuraria as duas selecções. A resposta de Torres foi irónica: “Está bem e somos nós os primeiros a marcar dois golos…”

Na verdade, foram os marroquinos a marcar não dois, mas três golos, sendo que o golo de Diamantino, perto do final, não fez mais que minimizar a vergonha de uma derrota (1-3) com a selecção magrebina. No entanto, a eliminação já parecia irreversível, pois, no treino da véspera, os jogadores portugueses treinaram-se sem entusiasmo, sem se saber se por cansaço, por ecos de tudo o que se tinha passado ou, simplesmente, por subestimarem Marrocos.

No dia seguinte, o Jornal “A Bola” titulou: “Adios México, afinal o que viemos cá fazer?” Um título que, infelizmente, resume a triste presença portuguesa no Mundial 1986.

Deixo apenas um pequeno vídeo do golo que apurou Portugal para o seu segundo campeonato do mundo

 

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Fahad Al-Sabah

Faltavam poucos minutos para terminar o França-Kuwait da primeira fase do Mundial 82. Em Valladolid, os franceses venciam a partida e Giresse acabava de fazer o 4-1, quando, de repente, o Sheikh Fahad Al-Sabah, também presidente da Federação do Kuwait, resolveu invadir o relvado e mandar os seus jogadores abandonar o terreno de jogo, porque considerava que o quarto golo “bleu” havia sido apontado de forma ilegal. Entretanto, gerou-se uma enorme confusão no relvado e tudo só ficou resolvido quando o árbitro soviético Miroslav Stupar anulou o golo (curiosamente, limpo) à França. Um momento curioso e que vai ficar recordado, para sempre, com um dos mais bizarros dos campeonatos do mundo.

O Kuwait havia chegado a este campeonato do mundo com expectativas reduzidas, mas, no primeiro jogo, surpreendeu o mundo ao conseguir empatar a uma bola com a forte selecção checoslovaca.

Assim, a equipa do golfo pérsico iria defrontar, no segundo jogo, a equipa francesa, um adversário que estava sobre pressão, pois havia perdido o primeiro jogo com a Inglaterra (1-3). Nessa partida, os franceses foram sempre mais fortes e aos  50 minutos já venciam por três bolas a zero, sendo que nem o golo de Al Buloushi (75′) colocava em causa o seu triunfo.

Como tal, todos ficaram deveras surpreendidos quando após um golo legal de Giresse, Fahad Al-Sabah, indignadíssimo, levantou-se da tribuna e dirigiu-se ao relvado para que os jogadores do Kuwait, em protesto, abandonassem o terreno de jogo. A confusão durou vários minutos e só terminou quando o pobre árbitro soviético, desesperado, acabou por anular o tento.

Curiosamente, a partida até acabou 4-1, pois Bossis, mesmo sobre o cair do pano, ampliou a vantagem gaulesa, mas este episódio acabou por custar caro ao árbitro Miroslav Stupar que viu a FIFA excluí-lo do torneio.

Já a equipa do Kuwait seria eliminada, sem casos, no jogo seguinte, após perder com os ingleses (0-1), mas, de qualquer maneira, já tinha garantido o seu lugar na história do futebol mundial após o gesto do Sheikh Fahad Al-Sabah.

Reveja ou descubra este momento bizarro no vídeo abaixo.

 

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Mas o que é que eu fiz? Parece dizer Ilunga

Aquele momento permanecerá, para sempre, como um dos mais cómicos e caricatos momentos de um campeonato do mundo. O Brasil beneficia de um livre directo em posição frontal contra a equipa do Zaire. Rivelino prepara-se para o remate, o árbitro apita e, de repente, sai da barreira um zairense, que corre para a bola e desfere um remate para bem longe, como se a sua vida dependesse disso. O árbitro respondeu com um amarelo para um pobre Mwepu Ilunga, que o recebeu sem perceber o que tinha feito de errado…

Depois de vencerem a Taça de África de 1974, o Zaire (actual República Democrática do Congo) tornou-se na primeira equipa da chamada “África Negra” a qualificar-se para o campeonato do mundo.

Depois de terem eliminado Marrocos (uma equipa que tinha estado no Mundial 1970), havia enorme expectativa sobre o que podia fazer a equipa zairense no Mundial 74, disputado na Alemanha.

Integrado num grupo com Brasil, Escócia e Jugoslávia, os zairenses estrearam-se diante da equipa britânica e, apesar de terem feito um jogo interessante, pagaram pela sua ingenuidade e perderam (0-2).

Pior, contudo, foi o segundo jogo, diante da Jugoslávia. A equipa zairense fez uma partida deplorável e perdeu por nove bolas a zero. Alguns dos golos sofridos foram de tal maneira ridiculos, que até se questionou se os africanos não estariam a fazer tudo aquilo de forma propositada.

Depois, diz-se que o presidente do Zaire ficou tão revoltado com o resultado dos seus atletas, que mandou dizer-lhes que, se perdessem por mais de três golos com o Brasil, não seriam autorizados a regressar ao seu país.

Assim sendo, foi sobre grande tensão que o Zaire encarou o jogo com os brasileiros e o nervosismo foi aumentando com o primeiro, segundo e terceiro golo dos canarinhos. Com 3-0 no marcador, surge então esse livre contra a selecção africana. Os rostos dos zairenses eram de terror e, quando o arbitro apitou, Mwepu Ilunga saiu disparado da barreira para afastar o perigo o mais rápido possível sem sequer pensar que o que estava a fazer era ilegal segundo as leis de jogo.

Ainda assim, os zairenses seguraram o (0-3) e, como tal, puderam regressar a casa.

Um momento que o futebol nunca irá esquecer para recordar ou descobrir no vídeo abaixo

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